Pode acontecer a qualquer um. Você tem um casamento estável, uma família feliz e uma posição invejável como director num banco espanhol. Tudo sobre rodas. Porém – a vida tem destas coisas – está prestes a acontecer um pequeno grande caso com uma morena deveras interessante que lhe tem andado a dardejar olhares pecaminosos lá no ginásio. Mais tarde ou mais cedo haveria de chegar o dia em que aquela “reunião até tarde”, que nunca foi mentira, passaria a ter um segundo sentido: Você vai ter realmente uma “reunião”, que vai ser – como sempre foi – “até tarde”, mas agora os negócios são outros: O seu “homólogo de Madrid” é afinal do Bairro Azul, e não é “homó...” nada. É uma mulher!
Por motivos profissionais tive que deslocar-me a Barcelona – a bela capital da Catalunha, aninhada e protegida pelas suas montanhas.
O hotel onde fiquei não podia ser mais central – o Prestige, no Paseo de Gracia, mesmo em frente àquela que considero a mais bonita fachada de Gaudí (diz-se Gaudí), a “Casa Batlló”.
A minha estimadíssima irmã, uma pessoa séria e honestíssima – há que dizê-lo, para bem do resto desta história – viveu fora de Portugal durante mais do que uma década. Primeiro em Macau, e depois em Bruxelas, onde constituiu família e se estabeleceu numa magnífica casa de três andares na Rue des Fidèles. As razões de tal ausência não vêm ao caso. O que aqui se conta é uma história verídica que tem a ver com o seu regresso definitivo à pátria de Camões e Pessoa…
Já tenho saudades – e não são poucas – da velha Feira Popular, de Entrecampos, bastião de folia e enfardanço do mais tipico que Portugal já teve.
A Feira Popular já pertence ao passado. Àquele passado que não volta mesmo mais. Contemporânea dum certo Parque Mayer, da “Rádio Crime” (de Patilhas e Ventoínha), e de uma maneira de ser lisboeta que se apagou, varrida por doses maciças de globalização amorfa e estrangeirada - que vamos consentindo e adoptando em nome da modernidade - é mais uma daquelas riquezas que Lisboa perde no seu caminho rumo à descaracterização total que os políticos mais saloios prepotentemente nos impõem, e que as novas gerações herdam sem se dar conta do que é, ou foi, ser bom português, e neste caso particular - alfacinha.
ALGUNS DIVERTIMENTOS DA FEIRA POPULAR – CONTADOS ÀS CRIANÇAS E LEMBRADOS AO POVO
“A Selva” – Combóio-fantasma em mono-carril, de visual naif e esverdeado, a justificar o nome, com muitas palmeiras de madeira, e zonas supostamente muito escuras e aterradoras dentro das quais os passageiros atravessavam “florestas” repletas de teias-de-aranha, animais perigosos, e coisas piores, como o célebre “arranhão da macaca”, que na verdade era feito por um empregado escondido na escuridão…
O haxixe - pó esverdeado resultante da fricção da perigosíssima planta Cannabis numa espécie de peneira, e depois prensado para ocupar menos espaço nos apertados meandros desse jogo do gato e do rato chamado narcotráfico – é uma substância de uso corrente em todo o mundo, e Lisboa não foge à regra. Pelo contrário: a dois passos do estreito de Gibraltar – funíl físico para a passagem dessa “droga maldita” da África para a Europa, Lisboa é a capital mais próxima, e mesmo que não fosse, ocupa uma posição estratégica privilegiada no seu escoamento por terra e mar.
(Quando o samba se juntar à salsa, o mundo tremerá!)
É sabido que as nações sul-americanas não têm tradições de boa-vizinhança. A inveja que pesa sobre o gigante luso-falante*, aliada à origem indígena dos povos de todo o grande triângulo, retira diplomacia aos países limítrofes, e mesmo o Brasil, «sob o manto diáfano» de uma língua diferente – a nossa – vive «orgulhosamente só», de costas voltadas para a chamada América Latina. Os vizinhos também não ajudam à festa. A Venezuela dá cotoveladas na Colômbia. O Equador briga com o Perú, a Bolívia com o Chile, etc... As antilhas são, como se diz: «uma de cada nação»: A sul do canal do Panamá qualquer desafio de futebol acaba sempre à paulada. «Estes latino-americanos são loucos»!
Mais um episódio de sexo e promiscuidade, no ambiente sofisticado, luxuoso e cheio de abundância que é o Restelo, em Lisboa… Um clássico! Uma peça de antologia!
Não tenho pejo algum em confessar que certa vez visitei - nos seus tempos mais prósperos e movimentados - o Casal Ventoso, o tristemente célebre hipermecado de drogas de Lisboa! “Mas”… pergunta pretinente do leitor: como é que um rapaz pacato como eu se havia de meter em semelhante aventura? Nas próximas linhas vem a resposta. Leitura não aconselhável a corações fracos…
“Foder”. Mas que grande palavrão! Feio, interdito e proibido. Ordinário e obsceno. Palavra-tabú de um assunto também tabú. Vocábulo banido e maldito. Fonema imoral e perigoso, fora dos limites de qualquer código. Um problema…